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TALVEZ UMA DANSA

by Rafael Macedo

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1.
Um pouco do que se entende Foge Um jeito de sentir o tempo Morre Um reino que se fez potente Cai Um caro amor, tão pleno, Trai De tudo aquilo que afirma o silêncio: que o ápice do que se diz é sempre…deserto… resta-me sabor, saber, seguindo sempre a mesma imagem candente: a dansa infinda reluzir…
2.
uma folha deixa escorregar e a gota cai // duas folhas na sandália o outono também quer andar
3.
Que coisa louca Fogo com fogo E fogo em tudo E fogo em tudo E fogo em tudo Que coisa louca Fogo com fogo E fogo em tudo E fogo em tudo E fogo em tudo Que coisa louca… Foi tudo solto Bicho com bicho Ventre com ventre Fogo com fogo
4.
[A vida que a gente leva] A gente leva da vida a vida que a gente leva da vida a vida que a gente leva… [Marielle vive!] Como assim irmão, tu consegue me dizer que Marielle não foi nada?! Diz para mim, então, o que são quarenta mil e meio mundo indignado?! É claro que o Clarin, o New York e o Telesur são surreais para o senhor... E Amarildo, então, não passou de uma péssima piada! Como assim irmão, tu consegue me dizer que Marielle não foi nada?! Diz para mim, então, o que são quarenta mil e meio mundo indignado?! É claro que o Clarin, o New York e o Telesur são surreais para o senhor... E Amarildo, então, não passou de uma péssima piada! Não vão nos calar! Não vão nos calar! Não vão nos calar! Não vão nos calar! Não vão nos calar! Não vão nos calar! Não vão nos calar! Não vão nos calar! Não (!)
5.
átimo 02:07
Um átimo Um átimo desvela Um átimo desvela o primeiro Um átimo desvela o primeiro segundo Um átimo desvela o primeiro segundo de nossas vozes fulgurando no ar (Um) (ar) Nosso único instante seminal (Nosso) (now) Nosso mínimo vestígio cabal (Nosso) (vestígio) Vaga onda sob a velocidade ocular Vibração potente no tecer celular (celular) Nada muito mais que o silêncio (Na da) Nada muito mais que silêncio (Na da) Nada mais que silêncio (Na da) Nada mais (Nada) Nada (Nada)
6.
7.
Seja dansa 03:21
S… e… j… a… d… a… n… s… a… Seja Seja, sejo, siga, sigo, cingo, cinga, tinja, tinjo, mas não finjo dansa Cedo ao fruto num momento: uma única árvore em movimento dansa
8.
Abro a vida Na janela São Gonçalo Miro a serra Sem pintura Sem milagre Natureza só revela Tudo Vasto E tão completo Guarda fundo O que o mundo Diz ser feio, bom e mau Engoli teu monolito Teu mistério sem umbral
9.
[Ode ao Onde] De onde gente vem? Pra onde gente vai? [Per se] Perecer e nada… Presumir que basta ser o que se esvai... Provisoriamente… Corpo frágil e fim, nada mais depois; será? Solitariamente… Fez as orações aos deuses que inventou; será? Ou será que tudo Não foi invenção de outros feito eu? Não há respostas… Quando se pergunta assim... Quando se pergunta, enfim... Basta-me'o que sinto e fim.
10.
O que se desatou num só momento não cabe no infinito, e é fuga e vento

about

LADO A

Talvez uma dansa (5:00)
(Rafael Macedo/Bernardo Caldeira)

três ( سه )
(6:31)
(Rafael Macedo/Paulo Lemisnki - segundo poema)

Fogo com fogo (3:10)
(Rafael Macedo)

Duas canções vivas - A vida que a gente leva/Marielle vive! (4:02)
(Rafael Macedo)


Total: 18:41


LADO B

átimo (2:07)
(Rafael Macedo)


sutilezas de uma ladainha (2:21)
(Rafael Macedo)


Seja dansa (3:21)
(Rafael Macedo)


são Gonçalo (2:16)
(Rafael Macedo)


Duas canções sobre a vida da morte - Ode ao onde/Per se (06:03)
(Rafael Macedo)


||: do instante :|| (00:59)
(Rafael Macedo/Carlos Drummond de Andrade)


Total: 17:07


TEXTO THIAGO AMUD

O intervalo de oitava se estende, por exemplo, de uma nota dó a outra nota dó. Dentro dele, a série de notas pode ser organizada de vários modos. Mas foi um modo entre muitos outros, o dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó, que lançou as bases do sistema tonal.
Mais de 150 anos depois da crise que desafiou os compositores modernos ditos eruditos a produzirem beleza de outras formas, o sistema tonal permanece regendo o senso comum ocidental a respeito do que é, em música, harmonia, tensão, repouso, previsibilidade, surpresa.
É arte: o sistema é dinâmico, acolhendo elementos que lhe são alheios. É sistema: ele os acolhe apenas na medida em que pode submetê-los à sua sintaxe.

Teoria tem cabimento em contracapa de disco? E se o disco nos levar a pensar tais questões?
Um compositor que emprega, reiteradamente, modos tão diferentes daquele de dó; que, por vezes, usa mais de um deles simultaneamente; que atomiza acordes; que golpeia violentamente vastas massas harmônicas; que contraria a presumível constância do pulso; que frustra toda e qualquer expectativa sobre a direcionalidade das frases melódicas; que arregimenta violino, cuíca, flauta japonesa e címbalo húngaro; um compositor assim conhece a história dos sons, de suas junções, desencontros e silêncios, e supõe que firmará com o ouvinte um pacto entre sensibilidades aventurosas.

Quem leu até aqui sem jamais ter escutado os álbuns anteriores de Rafael Macedo pode ter acabado de concluir que ele é um erudito.
Bem… se é obrigatório impor esse rótulo antipático a todas as músicas não-pop criadas pelo manejo consciente de uma vasta gama de técnicas composicionais, vá lá…
Mas se “erudito” for um gênero, não! Macedo atua principalmente no campo da canção brasileira.

A singularidade da canção popular na história da música leva o assunto para além e aquém (e, de novo, além) das considerações feitas no início do texto, pois redundância e inventividade são categorias que se deslocam quando uma voz está cantando o que não poderia ser dito de outro jeito.
O Brasil deu impulso inaudito à história da canção popular, que aqui se adensou e se tornou instância de pensamento.
Macedo é beneficiário dessas conquistas, estando alhures. Não faz canções pensativas. Sua música é, ela mesma, o pensamento se movendo e as coisas pensadas.

Na canção brasileira, há versos como “A gente mal nasce e começa a morrer”, “Existirmos: a que será que se destina?” e “O mundo passa por mim todos os dias/Enquanto eu passo pelo mundo uma só vez”.
A eficácia deles deve muito ao fato de suas melodias, harmonias e ritmos fazerem-nos soar um pouco distanciados daquilo que os gerou: a perplexidade ante a fugacidade de tudo, o sentido da vida, a finitude radical.
Talvez uma dansa nasce, inteiro, de angústias similares às que levaram, respectivamente, Vinícius, Caetano e Alvaiade aos achados acima – mas é obra muito outra.
Os primeiros versos que surgem na faixa-título (“Um pouco do que se entende foge/Um jeito de sentir o tempo morre”) não são para fruição. São descrições da movimentação do próprio som; catalisam energia; geram reaparições ligeiríssimas da melodia de caráter indiano que o coro expusera e que é, em seu mistério cíclico, signo de uma “dansa infinda” cosmicamente indiferente à condição humana crivada de perguntas sem respostas.

Mas a não apreensibilidade do sentido último das coisas, corolário de sua própria impermanência, é também o que as presentifica tão irreparavelmente.
Macedo não fala sobre isso. Ele arrisca dar à música a tarefa de imitar os meneios da impermanência e fisgar os raros relances em que a presença das coisas fulgura na clareira.
Em três, os timbres e dinâmicas, os acordes colorísticos encadeados sem nexo tonal e as durações dilatadas matizam o bosque fugidio em que as vozes, do autor e de Jhê, testemunham a epifania das folhas das árvores.
Se nada se deixa capturar, tudo ao menos se transfigura quando roçado pela música, que é fuga em estado de arte. Talvez ela possa tocar o ser de tudo que vai na direção do fim.
O ser: aquilo que a mente quer alcançar para decompor e classificar, e que aos corpos que se amam é dado imediatamente conhecer. O ritmo do coito – expectativa, palpitação, espasmos, balbucios, exaustões, retomadas – tudo está orquestrado em Fogo com fogo. A letra não faz senão expressar, prosaica, uma intensidade (“Que coisa louca!”). O mais é samba-gozo.
O mais é a batida insubmissa, taquicárdica, assimétrica daqueles acordes latejando revolta sob o mantra que o coro canta na primeira das Duas canções vivas – revolta cuja origem só entenderemos ouvindo o que diz a segunda canção viva.

A busca por fisgar com a música o instante só poderia levar à anulação das marcações de compasso: a unidade de tempo de átimo é o próprio átimo. A voz de Lívia Nestrovski encarna a ofegância que disso resulta.
O modo de caráter indiano, um pouco modificado, engendra outra melodia cíclica e volta a insuflar o coro no eterno retorno das sutilezas de uma ladainha sempre igual e diferente. O mundo está em dansa, nela sempre morrendo e nascendo e morrendo...
Seja dansa é essa cosmogonia-agonia. A série atomizada de sons, seus entrechoques disruptivos, a cacofonia cataclísmica, o último arpejo do piano que parece aspirar ao infinito: somos parte da (não) história do universo, que nos engendra para nos dissolver. Aqui, Macedo não controlou o turbilhão de associações a que o som o arrastou. Deixou aparecer, com aura estranha, a imagem da “árvore em movimento”, como que vinda de regiões extremas de uma psique prestes a se desagregar na força centrífuga da dansa.
Depois do pasmo, vem são Gonçalo encantar os melômanos. O breve motivo da primeira parte contrasta com uma segunda parte em que sopra certa aragem de lied romântico. Mas é das congadas e montanhas das Minas Gerais, plantadas na memória do sujeito, que são Gonçalo vai haurir seu sol maior.
É belo entender que nessa toada a tonalidade é tão necessária quanto, na anterior, a atonalidade o fôra. Aqui, o sujeito e o mundo entram em acordo; lá só existe o dinamismo que leva tudo na torrente. A experiência da visão da serra na cidade mineira é de completude. Não poderia ser tratada com a técnica composicional que emula o caos.
Arte do tempo, toda música passa, e o faz de modos diversos se a tonalidade vigora ou se ela é abolida. Mesmo depois do fim, são Gonçalo nos fica; mesmo enquanto dura, Seja dansa nos escapa. São estratégias diferentes tramadas por um mesmo criador que sabe que poética e técnica estão imbricadas.
É por isso que sua música é, ela mesma, o pensamento se movendo e as coisas pensadas.

Uma voz e um violão deixarão tudo isso mais claro.
Na primeira das Duas canções sobre a vida da morte, ouvimos um lento dedilhado, um vocalise meditativo e, logo a seguir, uma espécie de ruminação acelerada.
Quando, finalmente, as perguntas fundamentais são cantadas (“De onde gente vem?/Pra onde gente vai?”), elas soam como as precipitações (na acepção química) de cogitações que já moviam o dedilhado, o vocalise e as ruminações, mas que ainda estavam ali apenas dissolvidas, em forma de sedimento.
A segunda dessas Duas canções desenvolve as perguntas, levando-as a um paroxismo que o falsete, mais do que traduzir, vive. O compositor, ao fim, abdica de respostas racionais e – como não podia deixar de ser, uma vez que é uno com a música – devolve-se aos sentimentos e ao Instante que fecha o disco, quase imperceptível como um voo de libélula.

credits

released July 20, 2023

Direção artística, musical e composições: Rafael Macedo
Produção musical: Rafael Macedo e Thiago Amud
Gravação: Pedro Durães no Estúdio New Doors Vintage Keys
Mistura: Pedro Durães
Masterização: Eric Boulanger (The Bakery)
Coordenação artística: Jhê
Produção executiva: Jhê e Luanda Morena
Projeto gráfico: Ana Rocha
Fotografia da capa: Jalal Sepehr
Fotografia da contracapa: Isis Medeiros
Núcleo instrumental: André Geiger, Ayran Nicodemo, Joana Boechat, Kamila Druzd, João Drumond e Nat Mitre

Participações: Bruno de Souza Barbosa, Carlo Arruda, Jhê, Kristoff Silva, Lívia Nestrovski, Thiago Miotto, trio/quarteto de violões e coro feminino

Violões: Nino Coutinho, Ricardo Jamal, Stanley Levi e Anderson Reis

Coro feminino: Aline Magalhães, Ana Carolina de Paula, Andreia de Paula, Ariádna Fernandes, Carô Rennó, Fernanda Valadares, Letícia Bertelli, Iaiá Drumond, Iolanda Camilo, Sarah Reis

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about

Rafael Macedo Belo Horizonte, Brazil

Composer, arranger and pianist, Rafael and his group Pulando o Vitrô launched the albums Quase em Silêncio (Almost in Silence). With the Rocinante record label, he launched microarquiteturas (microarchitectures) and Talvez uma dansa.
Rafael has performed with Hermeto Pascoal, UAKTI, Gabriel Grossi, Toninho Horta etc.
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